Foto: Aapecan (Divulgação)
Para quem ainda não entendeu o tamanho da relevância do Outubro Rosa, o estudo da revista Nature Medicine, divulgado em fevereiro deste ano, ajuda, e muito: uma em cada 20 mulheres do mundo será diagnosticada com câncer de mama ao longo da vida.
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Outubro é um mês marcado pelo laço rosa, que representa a luta contra o câncer de mama e a importância da prevenção. A campanha nasceu justamente com este objetivo de conscientizar sobre o diagnóstico precoce da doença, que é o tipo de câncer mais incidente entre as mulheres no Brasil e no mundo. Muito mais do que um movimento de saúde, o período é também um convite à reflexão e ao cuidado consigo mesma, reforçando que a detecção antecipada salva vidas.
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), a previsão é que o país encerre o ano de 2025 com mais de 70 mil novos casos de câncer de mama, enquanto, em escala mundial, um estudo publicado pela revista Nature Medicine, em fevereiro deste ano, indica que se as taxas atuais continuarem, até 2050, haverá 3,2 milhões de novos casos de câncer de mama e 1,1 milhão de mortes relacionadas ao câncer de mama por ano.
Quando a identificação da doença ocorre nas fases iniciais, o índice de cura pode chegar a até 90%, o que reforça a importância dos exames preventivos, especialmente a mamografia, principal ferramenta para detectar alterações ainda no início.
Além dos avanços científicos, o Outubro Rosa também é um período em que o acolhimento e a empatia ganham protagonismo. Diversas instituições reforçam as ações de conscientização, oferecendo orientação, apoio e acompanhamento a mulheres em diferentes fases da doença.
Em Santa Maria, o trabalho da Associação de Apoio a Pessoas com Câncer (Aapecan) é um dos principais exemplos dessa rede de solidariedade e cuidado.
Cuidado e apoio
Fundada em 2005, a Aapecan atua em 15 cidades do Rio Grande do Sul e oferece, de forma gratuita, hospedagem, alimentação, atendimento psicológico e assistência social a pessoas em tratamento oncológico e seus familiares. Em Santa Maria, a unidade é referência para toda a região Central do Estado, com mais de mil usuários diagnosticados com câncer de mama recebendo acompanhamento permanente. O trabalho da equipe vai além do suporte físico: é um espaço de informação, orientação sobre direitos e, sobretudo, acolhimento emocional.
Segundo a assistente social Andressa Moreira, o papel da entidade é garantir que ninguém enfrente o câncer sozinha.
– É importante que as mulheres estejam com os exames em dia e sempre atentas ao corpo porque o diagnóstico precoce é o que salva vidas. Aqui na Aapecan, a gente trabalha não só com quem já está em tratamento, mas também com a conscientização, com palestras, rodas de conversa e ações nas comunidades durante o Outubro Rosa.
Andressa ressalta ainda a importância de fortalecer o vínculo entre pacientes e a rede pública de saúde.
– O SUS é o principal caminho para o diagnóstico e o tratamento do câncer de mama, e, por isso, a gente também orienta as mulheres sobre como procurar a unidade de saúde, como agendar a mamografia e o que fazer se houver demora no atendimento. Esse acompanhamento é fundamental para que ninguém fique sem assistência.
Exposição
Neste ano, a Aapecan escolheu uma forma sensível e simbólica de representar essa caminhada: a exposição fotográfica “Decididas”, criada em parceria com a fotógrafa Ariéli Ziegler. A mostra reúne retratos e histórias de mulheres que enfrentaram o câncer de mama com coragem e esperança. O evento de lançamento ocorreu no Boulevard do Shopping Praça Nova, e, ao longo do mês, a exposição também passa pelo Royal Plaza Shopping e pela Vida Card Santa Maria.
Com o lema “Nós acreditamos que a prevenção salva vidas”, a programação da Aapecan neste Outubro Rosa inclui palestras, rodas de conversa em empresas e instituições e uma blitz informativa com a Polícia Rodoviária Federal (PRF). A ideia é aproximar a mensagem de prevenção do cotidiano das pessoas, mostrando que o cuidado deve fazer parte da rotina.
Mudanças no SUS
Além das iniciativas locais, o Outubro Rosa de 2025 ocorre em um momento importante para o Sistema Único de Saúde (SUS). O Ministério da Saúde anunciou, recentemente, a atualização do Protocolo de Diretrizes Diagnósticas e Terapêuticas (PDDT) do câncer de mama. A medida inclui novos exames complementares, ampliação do acesso à mamografia e incorporação de tratamentos mais modernos, com o objetivo de reduzir o tempo de espera entre o diagnóstico e o início da terapia.
Essas mudanças devem ter impacto direto na vida das pacientes atendidas pelo sistema público, especialmente nas cidades do interior. O novo protocolo reforça a importância de redes de apoio como a Aapecan, que auxiliam as mulheres desde a detecção até o acompanhamento do tratamento, garantindo que o direito à saúde seja efetivamente cumprido.
O Outubro Rosa vai muito além das luzes e laços cor-de-rosa espalhados pela cidade. Ele simboliza o compromisso coletivo de falar sobre prevenção, de incentivar o autocuidado e de fortalecer as estruturas que acolhem quem mais precisa. Em Santa Maria, esse compromisso tem nome, voz e rostos, o de mulheres que transformam dor em esperança e seguem lembrando, todos os dias, que prevenir é o primeiro passo para viver.
Histórias de força e resiliência
Entre as quatro mulheres retratadas na exposição fotográfica “Decididas”, está Marli Teresinha da Silva, de 56 anos, moradora de Santa Maria. Ela também participou da campanha estadual da Aapecan e compartilha, com emoção, sua história de superação, marcada pela coragem e pela determinação diante de um diagnóstico inesperado.

Marli descobriu o câncer de mama durante um exame de rotina, mas o caminho até a confirmação não foi simples. Ela relata que sempre realizava autoexames e mamografias regularmente, e que pequenas alterações já haviam sido identificadas anteriormente. No entanto, durante a pandemia de Covid-19, percebeu que um nódulo estava crescendo e insistiu para realizar um novo exame, mesmo diante da resistência inicial do serviço de saúde.
– Aí de tanto insistir, fui fazer na Casa de Saúde. Lá, eu descobri (o câncer), e quando ela (enfermeira) disse, eu já vi que era alguma coisa mais séria – lembra Marli, descrevendo o momento em que teve a confirmação do diagnóstico.
O episódio reforçou para Marli a importância da persistência e do acompanhamento médico. O tratamento foi intenso e exigiu adaptação completa da rotina. Ela passou por quimioterapia, cirurgia, radioterapia e, mais recentemente, mastectomia (cirurgia de retirada da mama), enfrentando efeitos colaterais como a perda de cabelo, entre outros tantos.
– As mudanças que o tratamento me trouxe foram muito difíceis. Eu passava muito mal durante a quimioterapia. A única coisa que parava no meu estômago era água com gás e massa raspada com a colher – relata.
Mesmo diante das dificuldades, Marli destaca a força que encontrou na família, no apoio de amigos e no acompanhamento da Aapecan, fundamental desde o acolhimento inicial até o suporte contínuo durante o tratamento.
– A Aapecan apareceu na minha vida numa hora que eu precisava muito, muito, muito de mais apoio. Foi uma coisa assim muito boa que eu nem esperava que existisse – lembra.
Por meio da instituição, Marli recebeu atendimento psicológico, suporte social e orientações sobre os direitos de pacientes oncológicos, incluindo acesso a medicamentos pelo SUS e programas de amparo para quem enfrenta a doença. O acolhimento, desde a recepção até os profissionais que atuam diretamente na casa de apoio, foi decisivo para que ela se sentisse segura e amparada durante todo o tratamento.
Além do acompanhamento, Marli também se tornou uma voz ativa na conscientização sobre a importância da prevenção. Participando da exposição “Decididas” e da campanha estadual sobre o Outubro Rosa da Aapecan, ela compartilha sua experiência com outras mulheres, estimulando o diagnóstico precoce e a persistência no tratamento.
– Depois de tudo isso que eu vivi, o Outubro Rosa, para mim, significa uma esperança, uma esperança de vida para mim e para todas as mulheres. Façam o autoexame; se toquem, façam a mamografia, se cuidem, porque a vida é muito importante – reforça.
Hoje, a rotina de Marli é marcada pela gratidão e pelo desejo de inspirar outras pessoas. Ela destaca o apoio recebido e a força que encontrou para superar os desafios, transformando sua história em exemplo de coragem e resiliência.
– Apoio entre as mulheres é bastante importante, porque uma consegue levantar a autoestima da outra. A doença está ali, mas nós somos lutadoras. Vamos vencer, nós não vamos desistir, porque, por alguém ou por algum motivo, nós vamos continuar vivendo e vencer – afirma, mostrando que sua trajetória vai além do tratamento: é uma celebração da vida e da solidariedade.
Histórias como a de Marli mostram que o enfrentamento do câncer não é apenas um processo clínico, mas também humano. A autoestima, o apoio familiar e o amparo institucional de entidades apoiadoras fazem parte do tratamento tanto quanto as consultas e os exames. Por isso, a Aapecan reforça que estar atenta ao corpo e procurar ajuda cedo são atitudes que salvam vidas.